São Paulo sem energia não é a cidade que mais cresce no mundo!

 

 

Não é a primeira vez que ocupo esse espaço no nosso jornal A Tribuna para falar sobre as frequentes – e demoradas – faltas de energia elétrica em São Paulo, a maior cidade da América do Sul.

Mas a tempestade que atingiu terras bandeirantes no último 3 de outubro, além de vitimar sete pessoas, deixou milhões no escuro, causando prejuízos emocionais e financeiros por todo lado.

Vejo no noticiário que o Governo Federal está subindo o tom contra a Enel, empresa de energia elétrica aqui da Capital paulista. E pode, juntamente com o Ministério das Minas e Energia e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), até cassar a concessão da empresa italiana.

Assistindo ao Globo News, ouvi a jornalista Monica Waldvogel afirmar que, em 2018, a Enel possuía 27 mil trabalhadores em seus quadros. Hoje, ao final de 2024, tal número despencou para apenas 15 mil.

E mais: como sindicalista conheço bem o processo de privatização da antiga Eletropaulo, ainda no início do século. Ofereceu-se, na ocasião, incentivos econômicos visando a saída de funcionários mais veteranos. Milhares aceitaram, provocando uma evasão de cérebros nos recursos humanos da empresa.

Aí está um grande erro das privatizações. Em minha opinião, mudanças de gestão se fazem unindo experiência com renovação, ou seja, a Enel não conta, há muito, com o grau de excelência de seus antigos e qualificados técnicos.

Em nível humano, sei, também, que a Enel quis mexer no plano de aposentadoria dos eletricitários, deixando de arcar com sua parte de patrocínio, impondo uma migração danosa e não prevista no contrato de concessão original.

Uma empresa que trata tão mal seus valores não pode dar certo. Quer, a qualquer custo, otimizar seus lucros. E, para tanto, demite trabalhadores e procura retirar direitos adquiridos de seus aposentados e pensionistas.

Os leitores podem ver que estou falando menos da parte técnica e mais das relações entre capital e trabalho um tanto quanto aviltantes.

Em mais de 70 anos de vida, jamais vi a Capital paulista tão entregue às trevas. Tudo bem. Há fortes chuvas, quedas de árvores por vezes centenárias. E tais fatos atrapalham muito o trabalho das equipes de prontidão da Enel.

Mas o que me causa espécie é a demora que a empresa leva para restabelecer o sistema. É duro ficar sem luz elétrica em casa. Além do desconforto, alimentos estocados na geladeira ou no freezer apodrecem, tendo de ser descartados.

Há, também, caso de corporações que ficam sem energia por dias, acumulando prejuízos de toda ordem.

Se isso acontecesse uma vez ou outra, vá lá. Mas, não. Ameaça chover em São Paulo e todos ficam apreensivos. Pensa-se muito nas ruas escuras, que têm de ser transitadas por trabalhadores e estudantes, correndo o risco de serem vítimas de crimes de toda a ordem.

Só esse ano computamos três interrupções de energia na maior cidade da América do Sul. Fala-se muito que os cabos deveriam se subterrâneos e não aéreos. Todavia, São Paulo tem poucas instalações do gênero. O motivo: o sistema de enterramento da fiação elétrica custa quatro vezes mais caro.

A Enel não quer enfrentar o problema e arcar sozinha com os altos custos. Portanto, deveria haver uma ação conjunta dos Poderes Públicos e da concessionária para realizar projetos à altura de tão importante metrópole. Afinal, o município de São Paulo, com seus tantos milhões de habitantes, não pode ser tratado como cidadezinha de interior.

Outro motivo recorrente para explicar a demora no retorno da luz são as árvores. Sim. São Paulo desde os primórdios do século passado, jamais pode ser chamada de uma cidade planejada. E a maioria das árvores que caem foram plantadas em concepção hoje superada.

Na minha plataforma, como candidato a vereador, eu iria propor uma adequação de plantio na cidade. Ora, não se pode plantar árvores de grande porte embaixo de rede elétrica. Ela irá crescer e seus galhos interferirão nos fios. As raízes de determinadas árvores são muito grandes, afetando calçadas e moradias.

Todavia, há vegetação de pequeno e médio portes, cujo plantio não traria tantos problemas como os atuais, correto?

Falta gestão coordenada. São Paulo, infelizmente, desafia o óbvio…

Por fim, vale ressaltar que, segundo a Fecomércio, o prejuízo de São Paulo na mais recente interrupção de energia, chegou a R$ 1,65 bilhão. Foram afetados 2 milhões de moradores.

 

Ramalho da Construção

Presidente do Sintracon-SP

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